segunda-feira, 25 de julho de 2011

Maria José Grosso




As competências do Utilizador elementar no contexto de acolhimento


Os actos de comunicação realizados nos sectores sociais seleccionados não são meramente instrumentais, mas antes actos que favorecem o desenvolvimento de estratégias cognitivas e o desenvolvimento de uma proficiência em língua: “muitas interacções e actividades linguísticas reflectem mais o funcionamento social normal de um grupo do que as ligações com tarefas profissionais ou de aprendizagem” (Conselho da Europa, 2001: 76). Só perante a interacção social o falante não nativo é capaz de se situar na aprendizagem e compreender que tipo de mediação deve estabelecer com o Outro.

Tratando-se de um público-adulto, recém-imerso numa realidade linguístico-cultural não vivenciada, há uma certa propensão lógica de se referenciarem como prioritários os domínios como o público/transaccional, o profissional, o privado (referindo-se este último às relações que se estabelecem entre indivíduos com ligações de vária ordem, por exemplo, com amigos, vizinhos, conhecidos ou familiares por afinidade, em diferentes acontecimentos...)4; a selecção destes domínios e respectivas situações de comunicação têm uma ocorrência significativa nos trabalhos de ensino-aprendizagem de línguas; veja-se, por exemplo, no QECR:

“Posso prever os domínios nos quais os meus aprendentes vão operar e as situações com as quais terão de lidar? Se sim, que papéis terão de desempenhar?” (Conselho da Europa, 2001: 74)

O número de domínios e respectivas interacções não constitui uma escolha pacífica, surgindo algumas vezes conflitos de interesses entre o que é ensinado, o que se quer aprender e o que seria desejável que se aprendesse da língua5. No contexto de imersão, e tendo em vista a integração, contrariamente ao que se passa em contextos afastados da língua-alvo, em que raramente há finalidades imediatas de comunicação, a selecção dos domínios bem como a análise de necessidades comunicativas é prioritária.

domingo, 24 de julho de 2011

Língua - factor de identificação cultural




Maria Helena Mira Mateus

1. O problema
Ainda que seja habitual afirmar-se que a língua é um factor de identificação cultural, é lícito questionar esta afirmação perante a constatação de que uma só língua identifica, frequentemente, culturas distintas. Assim sucede com o Inglês, o Castelhano, o Português ou as línguas faladas pelos Apaches e Navahos, no sudoeste dos Estados Unidos, idênticas às línguas do Atabasca, no norte do Canadá e no Alasca (Titiev, 1963:324).

Ao questionar a afirmação com que iniciei este artigo fui levada a rever diferentes perspectivas sobre as relações entre língua e cultura, começando por um dos primeiros filósofos que longamente discorreu sobre esta questão: Wilhelm von Humboldt. Um dos seus mais interessantes escritos tem o elucidativo título de "Sobre a origem das formas gramaticais e sobre a sua influência no desenvolvimento das ideias"1

Para Humboldt, as palavras são como "objectos reais" e as relações gramaticais servem apenas de nexo; mas o discurso só é possível com o concurso de ambas (p. 14). Contudo, o que caracteriza o mérito de uma língua são as suas formas gramaticais, que permitem a representação do pensamento abstracto2. As características da forma possibilitam o reconhecimento da "acção do pensamento", pelo que

uma língua nunca alcançará uma excelente constituição gramatical se não tiver o feliz privilégio de ser falada, pelo menos uma vez, por uma nação de inteligência viva ou de pensamento profundo (p. 33
)
.

Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC)



Exemplo do que podemos encontrar no ILTEC

Recursos Em Linha

Portal da Língua Portuguesa

O Portal da Língua Portuguesa é um repositório organizado de recursos linguísticos. Pretende ser orientado tanto para o público em geral como para a comunidade científica, servindo de apoio a quem trabalha com a língua portuguesa e a todos os que têm interesse ou dúvidas sobre o seu funcionamento. Todo o conteúdo do Portal é de livre acesso e está em constante desenvolvimento. O principal recurso disponibilizado no Portal é a MorDebe, uma base de dados lexical e morfológica que provê informação sobre a ortografia, a flexão e relações morfológicas de um grande número de palavras da língua portuguesa.

O Corpus REDIP

O corpus REDIP (Rede de Difusão Internacional do Português: rádio, televisão e imprensa) é um corpus de língua oral e escrita constituído a partir de amostras diversificadas de três meios de comunicação: rádio, televisão e imprensa. Resultando de um projeto desenvolvido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), em cooperação com o Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL) e a Universidade Aberta, o corpus possui cerca de 330.000 palavras, distribuídas por seis temas: atualidade (notícias), ciência, cultura, economia, desporto e opinião. Trata-se de um projeto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Programa Lusitânia.

Corp-Oral

Corpus de Português falado, que está disponível para ser pesquisado através do Spock, uma aplicação que devolve os contextos de ocorrência do item pesquisado bem como o som correspondente.

sábado, 9 de julho de 2011

Didática - Comenius "Omnes, omnia, omnino - Todos, tudo, totalmente"

Jan Amos Comenius (Uherský Brod, 1592-Amsterdam, 1670)


(A Persistência da Memória - Salvador Dali)

Jan Amos Comenius (Uherský Brod, 1592-Amsterdam, 1670)- Didática Magna - Tratado Universal de Ensinar Tudo a Todos - ver aqui

Comenius defendeu o ensino de "tudo para todos" e foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos da criança.

Quando se fala de uma escola em que as crianças são respeitadas como seres humanos dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, logo pensamos em concepções modernas de ensino. Também acreditamos que o direito de todas as pessoas - absolutamente todas – à educação é um princípio que só surgiu há algumas dezenas de anos. De fato, essas ideias se consagraram apenas no século 20, e assim mesmo não em todos os lugares do mundo. Mas elas já eram defendidas em pleno século 17 por Comênio (1592-1670), o pensador tcheco que é considerado o primeiro grande nome da moderna história da educação.

A obra mais importante de Comênio, Didactica Magna, marca o início da sistematização da pedagogia e da didática no Ocidente. A obra, à qual o autor se dedicou ao longo de sua vida, tinha grande ambição. "Comênio chama sua didática de ‘magna’ porque ele não queria uma obra restrita, localizada", diz João Luiz Gasparin, profhttp://www.blogger.com/img/blank.gifessor do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá. "Ela tinha de ser grande, como o mundo que estava sendo descoberto naquele momento, com a expansão do comércio e das navegações."

No livro, o pensador realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula. A prática escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre professor e aluno, seriam consideradas as possibilidades e os interesses da criança. O professor passaria a ser visto como um profissional, não um missionário, e seria bem remunerado por isso. E a organização do tempo e do currículo levaria em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos professores, de ter outras atividades.

Ver todo o texto de Márcio Ferrari aqui.


Sobre Comenius e a sua obra encontramos: Fabricando fit faber o que aplicado a professores pode querer dizer que o professor se faz ensinando.

Para Comenius A verdadeira sabedoria é aquela que encerra todas as ciências e que garante uma linguagem universal como uma http://www.blogger.com/img/blank.gifespécie de universalidade comunicacional. A este processo a obra chama de Pansófia, ou seja, instrução universal o que permite melhor compreender o advérbio “totalmenhttp://www.blogger.com/img/blank.gifte”.
Para que esta proposta seja tornada realidade alguns instrumentos são imperativos, a saber: Escolas, livros e professores – Universais. Aos livros ele denomina de Pambíblia, às escolas qualifica de Panscolia e os professores de Pandidáscalia. O prefixo “pan” é o que identifica a http://www.blogger.com/img/blank.gifuniversalidade necessária para a efehttp://www.blogger.com/img/blank.giftivação da paz que se dá por meio da educação.


Ver todo o texto de Luciane Boreki e Elcio Alberton aqui.

Gostaríamos ainda de referir nesta entrada do Blog o livro de Comenius "Orbis pictus" (1651)- o primeiro livro ilustrado com fins didáticos - traduzido para "Visible World in Pictures" ou "Mundo Ilustrado" e que se pode ver integralmente aqui .

Sobre este livro María Esther Aguirre Lora escreveu um artigo que podemos encontrar aqui.